Disciplina Leitura e Produção Textual- Profª Drª Nilsa Brito
Resenhas- Turma 2011.
As resenhas que serão publicadas no Blog da FAEL, a partir
desta semana, foram produzidas pelos alunos da turma de
Letras-Português/2011, durante a
disciplina Leitura e Produção Textual.
Adotando procedimentos de
retextualização, durante a disciplina, duplas de alunos leram diferentes obras literárias (gênero romance ou
conto) e, a seguir, dedicaram-se à
resenha da obra lida. Após a primeira escrita, os textos foram submetidos à
avaliação da turma, em sala, reescritos pelas duplas, e agora chegam aos
leitores, com informações resumidas da obra lida.
Sabemos que há ainda um longo percurso de
escrita a ser trilhado por cada autor, em busca da superação de algumas
questões de texto, mas esta é uma iniciativa que objetiva inserir os alunos em processos de escrita que
ultrapassem a sala de aula universitária! Boa leitura!
Nilsa Brito Ribeiro – Profa. responsável pela
disciplina Leitura e Produção Textual- LA/2011.
HATOUM, Milton. Dois Irmãos. São Paulo:Companhia das
Letras, 2000.
Miriam
Nascimento
Valdilva Pereira
O autor, nascido em
Manaus em 1952, estreou como escritor em 1980. “Dois irmãos”, seu
segundo livro, foi publicado em 2000. Narra um drama famíliar que tem como
centro a história de dois irmãos gêmeos – Yaqub e Omar – e suas relações no
convívio familiar, com Halim, o pai; Zana, a mãe; Rânia, a irmã; Domingas, a empregada e Nael o filho desta.
É uma história de como se constroem as relações
de identidade e de diferença dessa
família. O autor busca formas e formatos para descrever essa família, o lugar
onde se passa o enredo e a figura do narrador.
A história da família se passa em
Manaus, onde o autor desenha no imaginário do leitor, todo um cenário: as ruas,
os portos, peixeiros, feirantes, vendedores de frutas e os lugares de encontro
das pessoas, os rios, as cidades flutuantes; em suma, um leque de
informações que oferece ao leitor, uma
viagem ao cenário da história.
Ao
longo de doze capítulos, apresenta- se, um jogo de narrativas minuciosas, cujo
resultado só será desvendado com o desenrolar da própria leitura, estratégia
que atrai o leitor.
Dois
irmãos inicia-se com uma prévia
narrativa do eu-lírico sobre Zana – figura da mãe dos gêmeos – que é obrigada a
deixar com muita relutância a casa em que viveu com sua família, junto ao porto de Manaus. O narrador
descreve suas dores, por não conseguir a
reconciliação de Yaqub e Omar, a angústia pela ausência do filho caçula, a quem
ela amava muito, protegia e dedicava-se
a ele de uma forma muito intensa. As alucinações que tinha com Galib,
seu pai, e com Halim , até o momento de sua partida, sua morte eram também
motivos de angústias.
A narrativa detém-se a seguir na história de Yaqub quando retornou do Líbano, onde passara
uma longa temporada longe de sua família – período da segunda guerra mundial. Yakub
retorna à casa familiar com a imagem de um jovem pacato e distante, um matuto
que com muita força de vontade consegue dar a volta por cima e concluir seus estudos
em Manaus num colégio de padres, juntamente com seu irmão; depois
resolve ir para são Paulo e só retornando a sua cidade natal para visitar seus
pais e rever Domingas, a qual foi muito sua amiga.
O narrador preocupa-se em detalhar a
trajetória dessa família, assim voltando várias vezes no tempo, buscando
descrever cada situação como a do pai de Zana, com quem começou a história
desta família, com a chegada de Galib
e Zana a Manaus, depois que este perde a
esposa. Lá eles conhecem Halim que logo se tornou esposo de Zana.
Após a lua de mel dos recém-casados o
pai da moça vem a falecer no Líbano, sua terra natal. O casal decide fechar o
restaurante que pertencia a Galib e mudam-se para próximo do porto da cidade,
onde abrem um pequeno negócio – um armarinho – que no futuro prosperará e será
administrado por sua filha, Rânia, moça bela mas que nunca consegue se
apaixonar ou muito menos casar, pois vive em função da família e do seu irmão
gêmeo caçul, salvando-o de suas confusões frequentes.
Mudam-se para a nova casa, onde Halim e Zana
recebem,uma menina, que depois de ficar órfã foi morar num orfanato de freiras
e logo foi doada para o casal que a criou e de quem se tornou empregada e
companheira de Zana nas suas orações e no cuidado com os filhos gêmeos.
Domingas cuidou de Yakub como mãe, pois sua verdadeira mãe dava mais atenção ao
outro gêmeo que nascera muito doente e se tornou seu favorito, assim iniciando
uma rivalidade entre os irmãos.
O caçula, assim chamado por sua mãe,
é o exemplo em pessoa daquele filho que, criado com muito cuidado, tornando-se
covarde, sob os mimos e a proteção da
mãe. Se satisfazia em perturbar a vida do irmão. durante toda a história
narrada, foi causador de todas as aflições de todos, principalmente de seu
irmão mais velho, pois fez o que pode para atrapalhar sua vida e querer suas
conquistas, principalmente amorosas.
Ambos travaram muitas lutas e discórdias, mas
no fim, sem ajuda dos pais o caçula acaba sofrendo a perseguição e a vingança
de seu irmão Yaqub, porém é ajudado por sua irmã Rânia.
Omar, o suposto vilão, percorre
durante a historia cravado na lembrança e na memória de Domingas que, tendo um
sentimento de amor, ódio e rancor por ele, não sossega até o dia que resolver contar
este segredo a seu filho, com quem morava na casinha no fundo do quintal.
O filho de Domingas cresceu no meio
daquela família e com incessante sede de saber quem era seu pai, desconfiava
dos gêmeos, mas não sabia qual deles. Teve uma grande convivência com seu avô o
qual lhe confidenciava muitas coisas sobre sua vida. Presenciou a morte de
Halim e logo após também perde sua mãe que antes lhe contou o que tinha
acontecido e quem era seu pai. Contou-lhe que, numa noite, o Caçula chegou embriagado
de suas festanças, adentrou no quarto de Domingas, agarrou-a e a violentou.
Relatou que Halim lhe apoiou durante a gestação e que ele gostava muito do
garoto, mas seu rancor continuava, esperava como quem espera algo muito
valioso, o perdão do seu agressor.
Infelizmente Domingas não conseguiu
esse pedido de perdão, acabou desencarnando em seu quartinho, na casa de trás,
deixando Nael, seu filho tão querido, nas garras daquela família que tanto lhe
deu alegrias e tristezas.
Nael
continua sua trajetória, cuidando da arrumação da casa e de Zana que a esta
altura já estava em pleno leito da morte, culposa pela desunião dos filhos e
aflita pelo desaparecimento do seu filho tão querido, o Caçula.
.
Acontece seu desenlace da matéria; sua casa é
vendida ficando somente a parte dos fundos que Yaqub deixou para que Nael não
ficasse desamparado. Este conclui seus estudos, torna-se professor e passa a
lecionar na mesma escola em que estudou.
Num
certo dia, em baixo de muita chuva Omar apareceu no seu quartinho, olhou-o,
fitou-o, por um segundo. Nael pensou que
ele iria pedir o tão esperado perdão pelo qual sua mãe ansiava, mas ele deu as
costas e foi embora.
Em
síntese, as contribuições que Dois irmãos
fornece é um aglomerado de informações que transporta o leitor a uma viagem
satisfatória com uma dose de aprendizado sobre a região amazônica.
HUXLEY,
Aldous. Admirável Mundo Novo. São Paulo: Globo, 2009.
Natacha Gondim
Paula Morais
Na obra “Admirável
mundo novo”, Aldous Huxley descreve uma sociedade futurística “perfeita”,
verdadeiramente claustrofóbica, dominada apenas por um governante e organizada
cientificamente por castas (grupos sociais impostos pelo sistema). Nesta
sociedade não há valores morais e nem religião, sendo assim nulo o conceito de
família. Todos consomem uma droga lícita chamada “soma”, que serve como uma
fuga da realidade, aliviando todas as preocupações e garantindo dessa forma uma
falsa felicidade, uma liberdade morta para todos.
No “admirável mundo
novo”, a geração do indivíduo se dá pelo processo Bokanovsky, um processo de
condicionamento, bastante detalhado no livro. A princípio há um pré-condicionamento
biológico e encubamento de óvulos e embriões, isto é, uma espécie de clonagem
múltipla. Depois há o condicionamento psicológico através de repetidas frases, como
por exemplo: “Não fique com roupas velhas, jogue-as
fora e compre novas é mais econômico assim”. Mas cada condicionamento
depende da casta de cada individuo. Cada ser pertence a uma casta que pode ser:
ALFA (detentores de conhecimento, casta alta e vestem roupas cinza), BETA
(detentores de habilidades específicas para a realização de tarefas e casta
alta), GAMA (mão-de-obra, casta baixa e vestem roupas verdes), DELTA (casta
baixa e vestem roupas cáqui) ou ÍPSILON (casta baixa e vestem roupas pretas).
Já os sentidos e sensações lhes são apresentados através de filmes, dentro de
uma sala de cinema onde há terminais sensoriais, tornando real tudo o que
estivesse no filme, como o cheiro por exemplo.
Em tal condicionamento
a idéia de religião, casamento, família, pai e mãe são vistas com maus olhos,
devido imposição do governo, pois tudo que é intenso e duradouro não é bom para
os indivíduos, para não passarem por fortes emoções. Mas para compensá-los e
confortá-los é dada a eles diariamente uma dose de “felicidade”, no caso a SOMA,
uma droga liberada pelo governo. Essa droga, também os mantém sem nenhum tipo
de enfermidade, saudáveis e jovens. Acalentando-os de qualquer questionamento
sobre o passado, pois tudo do mundo antigo fora destruído, dos livros a
monumentos históricos e obras de arte.
A princípio a história
se inicia com a inconformidade de Bernard Marx que pertence à casta alfa. Ele
não se sente satisfeito no sistema em que vive, por ser diferente fisicamente dos
outros de sua casta. No admirável mundo
novo a estética das pessoas e o ambiente parecem ser europeus. Inconformado
com tal sistema, Bernard decide visitar o que restou do mundo antigo, onde
vivem alguns selvagens, o que parece ser na América do sul.
Nesta viagem, Bernard
leva Lenina, pertencente à casta beta. Chegando a essa civilização se deparam
com índios e mestiços que ainda conservavam os costumes tão repugnados na nova
civilização, como a religião, casamento, família e outras coisas também como as
enfermidades, que são nulas na sociedade futurista.
Bernard conhece uma
senhora chamada Linda que tem um filho chamado John e muito intrigado com tais
selvagens os convida para voltar com ele a sua nova civilização, pois Bernard
quer apresentá-los ao admirável mundo novo. Linda aceita e consigo leva seu
filho John que se apaixona perdidamente por Lenina. Mas essa paixão não vai
muito em frente, pois Lenina não aceita a idéia de envolvimento duradouro, chegou
a se envolver com John, mas não teve coragem de encarar a sua sociedade.
Ao chegar à nova
civilização John provoca certo fascínio à população futurista por ser um jovem
selvagem e muito bonito, logo é induzido também a tomar soma, mas sua mãe Linda
já não recebe o mesmo tratamento por se tratar de uma velha índia; adoece de
tanta tristeza e acaba morrendo. John, ao ver sua mãe morta, se revolta completamente
com o admirável mundo novo.
Bernard e John são
convocados a irem ao gabinete do administrador de toda aquela sociedade
civilizada, o senhor Mustapha Mond,
onde tiveram uma longa conversa, como ele percebeu que tanto Bernard quando
John estavam insatisfeitos e que poderiam colocar a harmonia de todo aquele
sistema abaixo. Decidiu mandar Bernard para uma ilha onde as pessoas perceberam
a consciência de suas próprias individualidades e vivem comunitariamente bem,
semelhante com a antiga civilização. Já John preferiu se isolar em um antigo
farol, numa forma de reclusão de tudo e todos, mas sua paz não durou muito
tempo, pois fora descoberto por jornalistas e curiosos que queriam ver o
comportamento de tal ser selvagem. John não agüentou tanta exposição e acabou
se suicidando.
Este livro pode ser considerado bastante polêmico, principalmente, no
que diz respeito ao nosso futuro, envolvendo tantas intervenções tecnológicas, crítica
ao capitalismo e uma suposta liberdade que temos nos dia atuais. Considerando que
a obra fora publicada em 1932, pode-se dizer que Aldous Huxley fora bastante
profético em muita coisa que escrevera em “Admirável mundo novo”, como a
dependência de drogas, a globalização e a clonagem.
Por fim, Aldous Huxley com sua obra tão intrigante faz com que
analisemos até onde podemos chegar em nome da modernidade tecnológica. Faz-nos
refletir até mesmo sobre nossos relacionamentos, no modo como vivemos
afetivamente e socialmente.
Referências
HUXLEY,
Aldous. Admirável Mundo Novo, Globo:
2009
Ana Cláudia da
Costa Lima
Hannah Mohamad
Birani Alexandre
HATOUM,
Milton. Órfãos do Eldorado. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Órfãos do Eldorado é
uma novela que dá sequência à exploração ficcional do Norte Brasileiro,
empreendida por Milton Hatoum, nascido em Manaus no ano de 1952. A história é
narrada por Arminto Cordovil que, velho e sozinho às margens do rio Amazonas, relata
para um viajante à sombra de um Jatobá, a trajetória de sua própria vida.
Desde criança teve sua
vida marcada pela morte de sua mãe Angelina: “Até hoje recordo as palavras que
me destruíram: tua mãe te pariu e morreu.” (HATOUM, 2008, p.16). Filho de um
rico empresário no ramo da navegação no Amazonas, o jovem teve uma relação fria
com o pai Amando que o culpa pela morte da mãe: “Entre nós dois havia a sombra
de minha mãe: o sofrimento que ele suportava desde a morte dela. Para Amando,
eu era o algoz de uma história de amor.” (HATOUM, 2008, p.27)
No seu relato, conta que
foi educado por Florita, uma caseira considerada sua segunda mãe: “Até o dia em
que Amando entrou no meu quarto com uma moça e disse: Ela vai cuidar de ti.
Florita nunca mais arredou o pé de perto de mim.” (HATOUM,2008,p. 16).
Sempre recriminado pelo
pai e único herdeiro da rica família Cordovil, quando herda as propriedades e a
empresa do pai, um grande capitalista que adquiriu uma grande fortuna durante o
ciclo da borracha, Arminto se mostra sem capacidade e sem disposição para
administrar a herança, o que o conduz do luxo a pobreza. Até que um dia, quando
o protagonista cruza seus olhos com os de uma moça chamada Dinaura, criada
pelas freiras carmelitas, em Vila Bela no convento, o herdeiro reconhece que
sua vida mudaria completamente e mudou, pois entre eles, restou apenas uma
noite de amor.
Sua ausência é
encoberta por lendas de mulheres que, seduzidas por botos, cobras e sapos,
foram arrastadas para uma cidade encantada. O mito da cidade encantada, a atração
pelo fundo do rio aparecem como uma impossibilidade de conhecimento da
personagem feminina por parte de Arminto. Essa impossibilidade é tão grande que
chegam a misturar-se sonho e realidade.
Referindo-se ao seu
namoro com Dinaura, assim expressa o narrador:
“Foi um namoro
silencioso. Às vezes, eu escutava a voz de Dinaura nos sonhos. Uma voz mansa e
um pouco cantada, que falava de um mundo melhor no fundo do rio. De repente ela
ficava muda, assombrada com alguma coisa que o sonho não revelava.” (HATOUM,2008,
p.41).
Sua amada, realmente constituiu
um mistério para ele: “Nunca revelou quando havia entrado no orfanato. E me
acostumei com o silêncio, com a voz que eu só ouvia nos sonhos.” (HATOUM,2008,
p.41).
Eternamente apaixonado,
o jovem vive em constante busca nas matas ou nas cidades vizinhas. Sofre com as
consequências do abandono do seu pai, e com as irrealizações e seus desejos, o
deixa à beira da loucura, mas o melhor amigo de Amando, conhecido como
Estiliano, um advogado, o auxilia a
suportar as muitas perdas.
Arminto descobre por intermédio do grande
amigo de seu pai que Dinaura, o grande amor de sua vida, poderia estar em
Eldorado, uma cidade mítica em que repousam antigos descendentes dos soldados
da borracha. Ele resolve então encontrar com a moça não em um local imaginário,
mas no interior da mata.
Assim, Órfãos do
Eldorado é inspirado no mito amazônico da cidade encantada de Eldorado, paraíso
que existiria no fundo de algum dos rios da região, segundo lendas amazônicas. Na
novela de Milton Hatoum, Eldorado é também um barco da companhia da família
Cordovil. O barco afunda e leva a família à falência.
Hatoum traz à
existência dois Eldorados, o fictício que representa um lugar ideal, e o real
que é uma grande tragédia material, constituindo uma presença muito forte na
vida dos personagens, em busca da felicidade, no entanto, sempre frustrada.
Arminto, em sua narrativa torna-se refém dessas contradições de Eldorado.
Por fim, cabe aqui
verificar quais os mitos inseridos na narrativa deste romance de Milton Hatoum
e como se dá essa inserção. O mais importante é sem dúvida, o mito do Eldorado
ou da Cidade Encantada. O próprio autor, no Posfácio da obra, assim o define:
“Muitos nativos e ribeirinhos da
Amazônia acreditavam – e ainda acreditam – que no fundo de um rio ou lago
existe uma cidade rica, esplêndida, exemplo de harmonia e justiça social, onde
as pessoas vivem como seres encantados. Elas são seduzidas e levadas para o
fundo do rio por seres das águas ou da floresta (geralmente um boto ou uma
cobra sucuri), e só voltam ao nosso mundo com a intermediação de um pajé, cujo
corpo ou espírito tem o poder de viajar para a Cidade Encantada, conversar com
seus moradores e, eventualmente, trazê-los de volta ao nosso mundo”. (HATOUM,2008,
p.106).
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